quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Mais do Mesmo

Local: Avenida 9 de Julho
Hora: 08h23min

Cena: Dia quente de verão. Aquela brisa fria da manhã, mas já com aquela previsão de calor desonesto. Decote. Um gingado nacional bem característico. Magra sem ser seca. Arrumadinha sem ser fresca. Gostosa, no português claro. Flutuando pela calçada num take mágico, acompanhada por um marombado grande, desses que fazem musculação mais na auto-estima do que nos músculos.

Homem não disfarça. Olha mesmo! Talvez seja mais importante se mostrar olhando do que o conteúdo desfrutado pelas retinas. A atenção era tanta naquele par de pernas altamente mordíveis, que nem se notava o exótico travesti pé-de-sandália (travesti não usa chinelos, né?) que vinha atrás da loira. O travesti olhava de cima a baixo a beldade rebolar.

Sentado na calçada um menino com não mais de oito anos (que na verdade deveriam ser doze anos, mas não aparentava mais que seis) esquecia completamente dos seus deveres de vendedor de bala. Divertia-se às gargalhadas com o despudor estranho e o desglamurama daquele travesti mal financiado.

Do outro lado da rua, quase alheia tudo, mas fundamental para a costura dessa cena, ia uma velha freira em seus trajes castos. Num olhar assustado e impotente para o triste prelúdio de pecado e subversão que via naquele menino.

Fechando a cena, numa "fade away" bem lento para o cinza, iam todos os outros, ignorando a velha, o menino, o travesti, a gostosa e o bombado. Como se a única coisa da vida fosse andar a pé por aquela avenida. Mas num balcão de padaria, com cinco reais a menos no bolso, este interlocutor degustava seu pão de queijo com suco de laranja se divertindo com a vida.

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