quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Réquiem de uma Ressaca

Acordo segunda-feira, já um pouco atrasado para o trabalho, dentro do meu peito um filhote de dragão cospe fogo incessantemente, mostrando a enorme fúria de uma azia. Não é pra menos, afinal ficar num churrasco de domingo bebendo até as duas horas da manhã, não é pra qualquer santo.
O banho tende a ser a melhor hora do dia, mas como já estou atrasado, não posso passar de dez minutos, como se fosse fácil ter toda a coordenação motora necessária para se lavar. Na boca aquele gosto de cabo de guarda-chuva, claro que eu nunca lambi um cabo de guarda-chuva, porém, dizem que é a descrição mais próxima da realidade.
Volto para o meu quarto, as janelas ainda fechadas denunciam o mau cheiro por conta das “bufas” noturnas, a sensação é que estou dentro de uma caldeira industrial durante a fermentação da cerveja. Me troco, a roupa é a primeira que vejo na frente, já não sou muito adepto a moda, sem enxergar direito então, torno-me quase que um insulto.
Chego no trabalho, atrasado e com enormes olheiras, sou um réu confesso, afinal não adianta esconder, meu chefe já teve minha idade e sabe muito bem o que aprontei no final de semana. Entro na minha sala, já com um copo de água na mão, sento quieto na minha mesa e abro meus e-mails.
Não tem dez minutos que estou na minha mesa, olho em volta uns 4 copos de água vazios, penso na possibilidade de comprar uma garrafinha de água na lanchonete, mas acho que seria abusar da paciência do chefe, passo o dia sonhando com próximo final de semana, não consigo almoçar direito e também não sinto fome, tudo o que desejo é voltar para o aconchego da minha cama.
Na terça-feira, já acordo um pouco melhor, pelo menos não estou parecendo um pedaço de carne, já sou quase um ser humano, com raciocínio e coordenação motora. Acordo quase no horário e tenho mais tempo para curtir o meu chuveiro.
Tenho que trabalhar dobrado afinal a segunda-feira não rendeu nada devido as condições em que eu me encontrava. Ainda não estou na minha melhor forma, logo o trabalho também não esta, mas ao menos eu não estou desidratado e consigo desfrutar do meu almoço.
Quarta-Feira e ainda sinto algo me incomodando, não sei ao certo se é físico ou psicológico de qualquer forma minhas tarefas estão de ponta cabeça, ou seja, dia de por o serviço em dia. Trabalho dentro do escritório, mas me sinto como um estivador de cais, estou cansado e suando. Paro pra pensar, bom, já é quarta-feira, estou bem no meio da semana, se eu já consegui encarar dois dias, mais dois é moleza e logo chega o final de semana.
Quinta-feira, o trabalho vai bem obrigado, o problema é que é dia de happy hour. E é fato que não penso em outra coisa, cerveja, mulherada, salaminho, amendoim e é claro os amigos. O dia custa a passar, mas não há mal que dure para sempre e chega a hora de ir pro bar.
É chegada a sexta-feira, casual day, o que implica em você ir trabalhar com roupas que não são do trabalho, idéias que não são do trabalho e sem a menor vontade de trabalhar. A ressaca não é grande afinal era quinta e não foi até muito tarde e outra é sexta caramba, na sexta nada dói, nada incomoda, nada é problema, o final de semana chegou!
Após o expediente, é direto pro bar, balada, show, não importa, só não da pra ficar em casa. Faça chuva ou faça sol, é dia de festa, e dessa vez, até de madrugada, dia seguinte é sábado mesmo, não tenho hora pra acordar.
Sábado não dá pra acordar muito tarde, tem futebol com os amigos e depois aquela “passadinha” no bar e da-lhe cerveja. A noite é uma criança e é hora de ver na agenda pra qual que você vai ligar. Se tiver com paciência pode ser a gostosa que é chatinha, se tiver de mau humor, a feinha ninfomaníaca e se estiver desesperado, liga pra gordinha poxa, afinal nenhum amigo seu vai estar lá mesmo.
Domingão e o fígado já começa a pedir arrego, mas qual é a chance de você ficar em casa, ainda mais em dia de jogo. Churrascão da rapaziada, cada um leva um pouco de carne e o resto de cerveja, por favor, afinal ta todo mundo bem gordinho pra ficar comendo. O seu time vai jogar, logo, você vai beber de qualquer jeito, se ele ganhar você vai beber pra comemorar e se ele perder você vai beber pra curar e se não for o seu time você bebe pra acompanhar seus amigos.
O jogo acaba, mas o domingo não, e ainda tem cerveja no isopor. Vamos falar sobre o sábado, é nessa hora que rolam as maiores mentiras que um homem pode contar. Quem vai acreditar que o Maneco, gordinho e careca saiu com a Danielle, gostosa do jeito que é, mas se ele esta dizendo e é nosso amigo, não podemos nem sonhar em discordar.
Já é de noite, mas no domingo você faz de tudo pra não ficar dentro de casa assistindo Faustão. A cerveja ta acabando, só que ainda tem uma garrafa de vodka, bora pra caipirinha de ultima hora. Já passam das 21h e nego já ta bêbado e com fome, toca acender a churrasqueira de novo. Mais uma liguicinha, umas latinhas de cerveja e a merda ta feita.
Chego em casa já de madrugada, mal consigo colocar a chave na fechadura e tudo o que quero e deitar logo na minha cama. Largo a roupa em cima da cadeira, banho é artigo de luxo, e deito na minha cama. Durmo feito uma rocha.
Dia seguinte o despertador toca cedo, já estou atrasado, dentro do meu peito o neto daquele mesmo dragão da semana passada, azia que não acaba mais. Chego no trabalho apenas com um pensamento: - Quando vai chegar logo o final de semana? Mas como estou pensando no próximo final de semana se ainda não esqueci desse?